quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Fernando Henrique Cardoso: as glórias do desastre

             por Jorge Luís Guimarães 
            
             Há alguns meses, os brasileiros vem acompanhando a maneira truculenta como se estão dando as campanhas eleitorais dos presidenciáveis ao Planalto. Dentre os temas mais recorrentes, está a mórbida comparação entre os governos Lula e FHC, quase sempre com a demonização do último em favorecimento do primeiro.  O desemprego de 15 %, o real desvalorizado, déficit comercial e a crise energética fazem FHC ser rejeitado por 77% dos brasileiros atualmente e trazem amargas lembranças. Desastre de fato?
             Em 1995, Cardoso assumiu o país após implantar o Plano Real, que estabilizou os preços hiperinflacionados das mercadorias ao elevar a taxa de juros, atraindo investimentos externos para o país e aumentando o poder de compra da moeda nacional, cuja taxa de câmbio se fixou em R$ 1= U$ 1, o que barateou as exportações e ampliou sua oferta, forçando os produtos nacionais a baixar seus preços, extirpando a crônica inflação. Uma política que, todavia, custou caro no primeiro mandato de FHC. Com importações baratas, o déficit comercial aumentou, e a alta taxa de juros, apesar de fortalecer o poder de compra do real, restringiu o crédito e, por consequência, os investimentos na economia. Sem investimentos, o melhor para as empresas foi maximizar os lucros, cortando gastos e, principalmente, empregos: foram 1 milhão de vagas perdidas até 1998.
             Mas FHC deu uma guinada na política macroeconômica, instituindo o plano de reforma do Estado. Com as privatizações, parte do Plano, cortou os déficits bilionários das estatais e enxugou gastos efetivando a terceirização de serviços públicos. Com a economia de recursos e empréstimos do FMI, investiu, no segundo mandato, 161 bilhões de reais em infraestrutura, recuperando as estagnadas rodovias e concessionando algumas, o que diminuiu os preços dos produtos básicos, encarecidos pelas dificuldades de transporte, e beneficiando a população de baixa renda, além de atrair investimentos para o país por parte não do ´´capital externo``, mas dos empresários nacionais. O que  gerou 1,5 milhão de empregos.
           Na área social, Cardoso implantou 4 programas sociais, apelidados de ´´bolsa- esmola`` pela imprensa da época, mas que atingiram 5 milhões de famílias e deram o impulso para que 12 milhões de pessoas saíssem da linha pobreza, aumentando seu poder de consumo. Com consumo, tem-se demanda, investimentos e geração de empregos. O salário-mínimo aumentou em 45% descontada a inflação, o que foi responsável por 80 % da redução da pobreza, ao mesmo tempo em que o governo desvalorizou o real, barateando as exportações e diminuindo sensivelmente o bilionário déficit comercial. Essa política, ampliada por Lula, de distribuição de renda, aumento das exportações e fortalecimento do mercado interno e do salário-mínimo retirou outras 22 milhões de pessoas da pobreza, aumentou a classe média para 103 milhões, gerou 12,5 milhões de empregos, reduziu a desigualdade social em 20 % e transformou o Brasil na oitava economia mundial.
         Todavia, com o país começando a crescer novamente, a demanda por energia elétrica aumentou na virada do milênio, justamente durante a maior estiagem em 10 anos. O setor não era alvo de investimentos desde o governo Geisel e o país foi ameaçado de apagão, o que eclipsou as mudanças econômicas e a redução da desigualdade social no ano de 2001. FHC implantou um racionamento, investiu na criação do gasoduto Brasil-Bolívia, construiu termelétricas e liberou bilhões para a construção de hidrelétricas, muitas inauguradas durante os primeiros anos do governo Lula. E hoje, com a ampliação da matriz energética, o Brasil é líder na geração de energia.
         De fato, existem muitos outros aspectos do governo FHC, cada um merecendo um artigo próprio. Procurei aqui esclarecer os referentes à economia e ao desenvolvimento social, relacionando a bem-sucedida política macroeconômica atual como continuação da adotada por FHC: a História de um país é processo, e muitos eventos só podem ser compreendidos a longo prazo. E, só agora, Fernando Henrique Cardoso está, ao lado de Vargas, JK e Lula, sendo reconhecido como um dos construtores daquela que provavelmente será, em 2030, a quinta economia mundial e já é a maior redutora da pobreza e da desigualdade social da história recente.

Um comentário:

  1. Jorge
    Bom artigo, é importante que vejamos sempre as coisas em diferentes ângulos. No próximo, use apenas uma linguagem mais direta com o leitor, como se estivesse conversando com ele. Continue escrevendo.
    Um abraço!
    Professora Ecia Mônica

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