Madalena Cavalcanti de Sousa
Quietos na noite, tensos ao mesmo tempo, alunos do Ensino Médio depositam suas esperanças num objetivo contínuo: entrar na Universidade. Para isso, as energias positivas existentes, uma fé assídua não sairiam sem êxito, junto a muita dor de cabeça, motivariam a realização do sonho de “ver o novo”: os jovens estudantes passam a ter a tarefa de ser um universitário.
Durante os anos de vida, uma diversidade de conhecimentos ia se acumulando, mas, não seria o bastante. Muitos conteúdos didáticos não foram explicados-aprendidos nas salas de aula. Uma complementação por parte dos estudantes seria os estudos extraclasse servindo de ponte à aprovação no Vestibular. Obviamente, há alguém no momento dizendo “comigo não foi assim”, mas, calma, sei que alguém diz também “comigo foi desse jeito”.
Foco nesse discurso os alunos do campo, do Agreste e bordas do Sertão Pernambucano. Não é uma notícia nova, muitos sabem das mínimas oportunidades de trabalho que os municípios dessas regiões dispõem, poucos são os indivíduos que aceitam a migração, a ausência de suas terras de origem, com a utopia de que viverão melhor lá fora. A certeza de que todo o empenho nos estudos tem como consequência a realidade dos sonhos faz com que toda essa coragem, essa valentia não venham a ser em vão.
Isso não é nada além da realidade. Ela aparece à minha, à sua frente. Se “estudo é esforço para resolver um problema”, na mente se passa a ideia de trazer para si, posteriormente o que no momento está em carência. Exemplificando, basta olhar para a casa da maioria desses jovens onde a renda mensal, muitas vezes, semanal, é gasta apenas com a alimentação da família e outros gastos necessários. Além da vontade de materializar seus sonhos alheios se sentem no direito de retribuir alguma coisa aos pais quando esses estiverem velhos e cansados, ou, ao menos a lembrança de que “cuidaram na vida”.
Muito se escuta hoje razões que condicionam essas atitudes. “Ficando aqui, parado, amanhecendo e anoitecendo, e eu no mesmo canto, sem mobilidade alguma”. “Indo a velórios e missas por que novos e velhos morrerão”. “Essa seca, essa pobreza infeliz”. “Nada de novo, sempre as mesmas caras”. “Parado aqui, não chego a conhecer o que não conheço”. Pode ser motivo de riso. Quem é Dulce (=do(dul)+si(ce)tio, que invenção!) sabe bem disso. Nessas situações, vergonha não é motivo para ocultar certas falas.
Numa tarde passada ouvi comentários de uma professora, não recordo bem a ordem exata, mas era do tipo “há três anos, viajei para Recife com dois alunos para exposição de projetos de pesquisa, dos quais fui orientadora, ao término das apresentações, fiquei surpresa com tantos aplausos, beijos e abraços da equipe julgadora aquilo pra mim renderia comentários mais tarde aos meninos, ou melhor, os meus parabéns a eles e sabe de onde eles eram? todos dois do campo. Ah, fiquei muito contente”, era tudo que eu queria ouvir antes de iniciar a produção do meu artigo, uma prova que não permite contradição no âmbito da lucrativa união entre gente do campo e o espaço acadêmico.
Na atualização dessa citação é importante lembrar que isso não ocorre por acaso. Dada certa atenção a um objetivo, prevalece o anseio a generalizados conhecimentos, a abertura a novas experiências, a participação intensa, exigindo seriedade nas diversas atividades nesse espaço de tempo.
Quem ingressa na universidade abre mão de certas coisas, alguns tem a chance de sair de casa, outros enfrentam a jornada indo todo santo dia ao campus, uma tarefa nada fácil, no frio, no sol, com dinheiro ou não, não se pode dizer um não, apenas submeter-se. Não serão mais aqueles dias de tranquilidade, de atividades raras, alternadas como nos estudos anteriores, ao contrário, muito conteúdo a estudar, compartilhado, complementado, participativo, acumulativo, todos sabem bem disso.
A causa de todo o sacrifício não é nada implícita, como antes citada, na esperança de realização-retribuição mais tarde, faz deles sujeitos a agruras cada vez mais fortes. Uma escolha(s) determinaria o que “viver amanhã”, conscientes ou não do que procede, dão valor à sua inclusão na referida porcentagem dos “rurais” no total de alunos da sala. Uma vez presentes aparece à necessidade de compromisso diante do que foi escolhido.
Não vejo razão do título de “atrevidos” ser escancarado na cara desse grupo (do campo), nem a “marcação” com o “povo do sítio”, o que se observa é tamanho desrespeito e ignorância influenciarem nessas frases humilhantes, sem o mínimo de veracidade (espero que essa parte não seja censurada, mas é verídica!). A área não está restrita a fulano nem a cicrano.
Retomando ao meu objeto principal. Uma percepção constante de que, distância em quilômetros, questões financeiras, dificuldade de acesso, regiões distintas não são motivos para o bloqueio do jovem ao mundo acadêmico colabora para a afirmação da possibilidade e importância do registro que esse pode vir a deixar na Universidade. Cumprindo deveres, atingindo metas, acaba em adquirir títulos para inúmeros sujeitos, (família, sociedade acadêmica, o campus em si, indivíduos em especial), não apenas a si próprio.
Madalena
ResponderExcluirSeu texto tem quase todas as características de um artigo pessoal, o modo como dirige-se ao leitor e o caráter pessoal que dá as idéias é o que caracteriza o gênero, porém precisa apenas sequenciar melhor as idéias, pois ao misturá-las, foge um pouco do tema central, embora retorne-o o tempo todo.Com a organização das idéias seu texto vai ficar mais coerente.Continue escrevendo artigos sobre diversos temas, você leva jeito.
Um abraço!
Professora Ecia Mônica